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sábado, 20 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27232: Felizmente ainda há verão em 2025 (35): os vinhos verdes que aprendemos a gostar na guerra: Casal Garcia, Aveleda, Gatão, Três Marias, Lagosta, Palácio da Brejoeira (...sem esquecer o Mateus Rosé, da Sogrape)


Rótulo (histórico) do vinho verde Gatão, da Sociedade dos Vinhos Borges & Irmão Lda. Um dos vinhos verdes que consumíamos na Guiné, em garrafa tipo cantil. A sua história remonta a 1895. Deve ser uma das marcas mais antigas.


Casal Garcia, da Aveleda, Penafiel. O mais conhecido na Guiné, ao tempo da guerra colonial. A marca nasceu em 1939. È a marca de vinos verdes mais vendida em todo o mundo.



Outro vinho verde apreciado, em garrafa tipo cantil, o "Três Marias", das Caves Casalinho,  Vizela A empresa foi fundada em 1944.  Esta marca foi lançado em 1956.



Vinho verde branco, "Lagosta", da Real Companhia Vinícoal de Portugal. Rótulo.  É uma das marcas mais antigas (1902). POertecne hoje à Enoport Wines.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 (1972/73) > Legenda: "Nesta foto está o Figueiral em frente (ao meio) de óculos escuros e a comer uma cabritada com a garrafa de Casal Garcia à frente. Eu estou do lado esquerdo da foto (...).. De costas para a foto está o Pinto Carvalho. Do lado direito da foto, em primeiro plano está o alferes Bastos, o homem do obus (alf de Artilharia) e logo a seguir, portanto à esquerda do Figueiral, está um segundo tenente de que não me recorda o nome. Era habitual haver um abastecimento via barco por mês e que vinha sempre escoltado pela Marinha, ficando o Oficial instalado lá no quartel [em Bedanda, na margem esquerda do Rio Cumbijã]" 

Foto (e legenda): © António Teixeira (1948-2013) Todos os direitos reservados. Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Caramadas da Guiné (2013). 




Hélder Sousa, ribatejano do Cartaxo
ex-fur mil de trms TSF
 (Piche e Bissau, 1970/72)

 
1.  O verão está a chegar ao fim... Acaba amanhã, no calendário; dia 22, segunda feira,  já é outono (astronómico), prolongando-se até 21 de dezembro.

As vindimas também acabaram en Candoz. Já fizemos o nosso vinho. Já nas cubas de inox. E ainda entregámos maos 3 toneladas e tal  de uvas na Aveleda, em Penafial,  a  empresa de que somos fornecedores há muitos anos...Uvas de altíssma qualidade (arinto ou perdená, como se diz aqui, mais azal)... Sem um único cacho podre ou seco... Estão com  13,8 graus de álcool provável, segundo as medições da Aveleda.

Estamos, na região dos vinhos verdes,  ainda em plena azáfama... Ainda há vizinhos a vindimar. Fica bem, por isso,  falarmos um pouco dos vinhos verdes, se não se importarem os nossos leitores... Vinhos verdes de que só ouvimos falar (e provar), muitos de nós, na Guiné... 

(...)  "De Piche, em termos de Messe também não me lembro como era. Sei que cá fora, no Tufico, bebia cerveja. Mas no Quartel lembro-me bem de "estrear" Alvarinho "Palácio da Brejoeira". 

Nunca tinha bebido (para mim 'vinho verde' era Casal Garcia e similares) e isso foi possível porque um dos Capitães era uma pessoa de gostos refinados (até mandou vir, a suas custas, um aparelho de ar condicionado que mandou montar no quarto)  e fez com que fossem fornecidas algumas caixas e, como uma delas se "partiu",  lá tivemos a sorte (eu, o vagomestre cúmplice e mais uns dois ou três esforçados companheiros) de experimentar esse vinho. E gostei! (...) (*)

2. "Palácio da Brejoeira", alvarinho (só para capitão de "gostos refinados" e oficiais superiores...) e "Casal Garcia" (para alferes e furriéis milicianos): já temos duas marcas de "vinho verde" que se consumiam no CTIG.

Aliás, foi na Guiné que muitos de nós,"mouros",  "sulistas", começaram a apreciar o vinho verde branco: quem ainda não se lembra de marcas históricas, para além do Casal Garcia e do Palácio da Brejoeira ? Quem não se lembra  do Aveleda,  Casal Garcia, Três Marias, Garcia,  Lagosta, Gazela, Casal Mendes, etc. ?

A malta do Norte, de Minho e Entre-Douro-e-Minho, estava habituado ao "verde tinto", boa parte dele de fraca qualidade,  proveniente de castas locais como o  bom "vinhão" mas também de "produtores diretos", como o Jacquet, ou Jaquê, e o "americano",  hoje completamente banidos...

3. Acaba de se assinalar os 117 anos da publicação da Carta de Lei de 18 de Setembro de 1908, que instituiu a Demarcação da Região dos Vinhos Verdes, uma das mais antigas na Europa, a segunda em Portugal, a seguir à Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo (remonta a 1756).

Lê-se no novo portal sobre os Vinhos Verdes, da CVRVV (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes), que "curiosamenmte, ao contrário da imagem que hoje apreciadores de todo o mundo têm do Vinho Verde, terão sido, sobretudo, tintos, os vinhos que começaram por trazer fama à região".

Foi a partir de finais do século XIX que os vinhos brancos, elaborados a partir das castas locais, começaram a ser apreciados nos grandes centros urbanos.

Foi preciso esperar pela "guerra colonial", para os vinhos brancos ganhassem uma crescente quota quer na produção, quer na exportação. Os vinhos verdes tintos ficaram progressivamente remetidos a um consumo maioritariamente local (o que durante muitos anos também foi uma "injustiça": hoje recomeçam a ser "descobertos", têm de resto uma enorme importância na culinária local...

Decisiva, neste processo de "renascimento" dos vinhos verdes brancos , foi "a investigação efetuada a partir dos anos 60 e 70, que não apenas estudou em profundidade as variedades brancas autóctones (castas como Loureiro, Trajadura, Arinto ou Alvarinho, por exemplo), como revolucionou a forma como se plantavam e conduziam as vinhas na região, fazendo a transição de uma viticultura de subsistência, focada no mercado regional, para uma viticultura profissional, orientada para o mercado nacional e de exportação" (Fonte: portal da CVRVV).

Os vinhos verdes brancos portugueses começaram a ganhar maior projeção, inclusive no Ultramar, a partir dos anos 60 e 70, momento em que marcas como Aveleda, Casal Garcia, Gatão, Lagosta, Três Marias e Palácio da Brejoeira se tornaram presenças constantes em restaurantes, cantinas e messes militares do império colonial, acompanhando também o Mateus Rosé—embora este último não seja técnica e legalmente um vinho verde.





Na cantina de Nova Sintra, em meados de 1970, o vinho verde (da Aveleda)  custava à volta de 8 euros (a preços de hoje), o equivalente a metade de um garrafa de uísque bovo (16 eruos), segundo documentos disponibilizados pelo Aníbal José Soares da Silva, ex-fur mil vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70). 

Em 30 de junho de 1970, havia 221 garrafas de vinho verde em "stock", no valor de cerca 4,7 mil escudos (preço médio de custo=21,2 escudos). Uma refeição em Bafatá (bife com batatas fritas e ovo a cavalo) andava à volta dos "vinte pesos".

Nesse mês de junho de 1970 venderam-se 4 garrafas de Mateus Rosé, a 20$50 cada uma (de 15 requisitadas em armazém). Mas de 17 garrafas de vinho Aveleda (requisitadas, em armazén) não se vendeu nenhuma...

Fonte: Excerto de Balancete da Cantina, 30 de Junho de 1970, CCAV 2483, "Os Cavaleiros de Nova Sintra".


4. Marcas icónicas no Ultramar

Aveleda e Casal Garcia (produzidos pela Aveleda) destacaram-se por serem vinhos leves, frescos, fáceis de beber, com baixo teor alcoólico e enorme aceitação em climas quentes, como os de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Gatão, Lagosta. Três Marias, etc., tornaram-se marcas populares, apostando em vinhos brancos jovens, relativamente acessíveis em África...

Palácio da Brejoeira consolidou-se como símbolo de prestígio, sobretudo o seu Alvarinho, sendo mais apreciado por elites e em ocasiões especiais.

Mateus Rosé, embora não seja vinho verde, fez história como um vinho jovem, acessível, e amplamente consumido no Ultramar e internacionalmente (era serviço nba TAP), alcançando notoriedade após as décadas de 50 e 60 em restaurantes, missões diplomáticas e unidades militares portuguesas em África.

Lembro-me de outras marcas em Bambadinca, no bar de Sargentos (que era bem fornecido): Gazela, Campelo, Casal Mendes (das Caves Aliança, hoje Bacalhoa)... 

Nunca bebi o "Palácio da Brejoeira", alvarinho: era raro e caro... Mesmo assim os verdes brancos masi correntes não eram baratos: andavam, pelos 25 escudos nas nossas messes e cantinas (e, se bem recordo, 35, nos restaurantes em Bafatá). Não se bebiam todos os dias, longe disso: bebia-se em dias especiais, festas de aniversário, por exemplo.

Mas os nossos leitores, camaradas desse tempo, têm por certo recordações que vão partilhar connosco.

(**) Último poste da série > 16 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27222: Felizmente ainda há verão em 2025 (34): Mata-mouros e outros apelidos e alcunhas, raros, exóticos, pícaros, brejeiros, etc.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26698: In Memoriam (544): Carlos Matos Gomes (1946-2025): o último adeus, anteontem, no cemitério do Alto de São João ... O Hélder Sousa representou condignamente a Tabanca Grande.





Lisboa > 25 de abril de 2020 (?) >  Carlos Matos Gomes (1946-2025) e a filha Carla. Cortesia da página do Facebook do nosso camarada, que se despediu da Terra da Alegria no passado dia 16. A notícia da sua morte, dada pela sua filha, teve mais de 2,5 mil comentários e cerca de 500 partilhas.
 
Tinha 4,3 mil amigos no Facebook, 230 em comum. Era amigo do Facebook da Tabanca Grande, mas não integrava o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Mensagem do Hélder Sousa, nosso colaborador permanente, provedor do blogue da Tabanca Grande:

Data - 17 abr 2025 18:07

Assunto -O funeral de Carlos Matos Gomes

Caros amigos

Na passada terça-feira foi indicado que o velório desse nosso camarada decorria das 19:00 às 23:00, salvo o erro.

Mas não fui lá, pois estive na tomada de posse dos elementos eleitos para os diversos Órgãos  da minha Ordem profissional, a OET (Ordem dos Engenheiros Técnicos), onde também preenchi um cargo.

Isso decorreu na Sala Macau da Fundação Oriente. Finda a cerimónia, seguiu-se um jantar.

No dia seguinte, tinha sido divulgado que as exéquias iriam ter lugar às 11:00, mas depois veio uma informação que seria a partir das 13:00, finda a qual o corpo seguiria para o Crematório do Cemitério do Alto de S. João.

Desloquei-me então para Lisboa e fui direto ao Cemitério, aguardando por lá, em conversas de circunstância com algumas pessoas presentes, a chegada do caixão, o que ainda demorou algum tempo e sob um tempo de chuviscos.

Foi formada uma guarda honra que disparou três salvas à entrada do caixão. Essas salvas foram de algum modo impressionantes dado o "teto baixo", o que fez ecoar fortemente na parada do Alto de S. João.

Da entrada ao Crematório é uma pequena distância, percorrida atrás da viatura.

Houve uma "encomendação" por intermédio de um oficial padre (não registei a sua patente mas creio que major). Finda a mesma, tomou a palavra o coronel Vasco Lourenço, fazendo o elogio fúnebre e exaltando as qualidades e o contributo que o coronel Matos Gomes deu para a Democracia e depois o Dr. João Soares, na qualidade de "civil", amigo pessoal, relembrando também peripécias vividas em comum.

No final cantou-se a "Grândola, Vila Morena" e depois o Hino Nacional.

Ao despedir-me da filha, disse que estava ali em meu nome e também em nome do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Boa "passagem" para vós.

Abraços, Hélder Sousa

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Nota do editor:

domingo, 9 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26566: S(C)em Comentários (60): ... Agora e na hora da nossa morte, ámem! (Hélder Sousa, no velório do Valdemar Queiroz, ontem ao fim da tarde, em Agualva-Cacém)

1.  Aprendemos a ser solidários (e tolerantes) uns com os outros, na guerra e na paz... E na Tabanca Grande, que tem mais de 20 anos... Crentes ou não crentes, batizados ou não batizados (90  e tal por cento dos rapazes da nossa geração, foram batizados e educados na religião católica), ainda nos lembramos da singela oração que é a "Avé Maria, cheia de graça"... É uma prece, uma súplica, em que se pede, à Mãe de Cristo, que rogue por nós, "agora e na hora da nossa morte, ámen".  

O Valdemar, que sabia que era pó e que em pó se voltaria a tornar, pediu-nos um último adeus. O Hélder Sousa (Trms, TSF, Piche e Bissau, 1970/72), o Humberto Reis, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bamnadinca, 1969/71),  o Manuel Macias e outros "lacraus" (da CART 2479/ CART 11, Contuboel e Nova Lamego, 1969/70) estiveram lá ontem, com ele,  para o último adeus. 

Merece destaque esta pequeno apontamento do Hélder Sousa, nosso colaborador permnanente, provedor do leitor do blogue e que nos representou a todos.(*)
 

Fui ao velório. Falei com o filho José, cumprimentei outros familiares.

O Blogue era bastante familiar para aquelas pessoas. O Valdemar foi dando conta das suas participações nele.

Não foi fácil, para mim que sou habitante da "margem esquerda", encontrar as "coisas" naquele emaranhado e isto porque a capela mortuária não era na "Igreja de Agualva" na Rua do Bom Pastor, em Agualva, como foi inicialmente publicado, mas sim no "Centro Social Paroquial do Cacém" , na Rua da Paz em Agualva-Cacém.(**)

Mas lá cheguei. E encontrei o Humberto, o Macias e outros "Lacraus".

A esposa do José, nora do Valdemar, holandesa (acho que se deve dizer neerlandesa) fez questão de ler um pequeno texto em jeito da sua homenagem ao Valdemar, com as sua recordações do seu (dele) carácter e do bom relacionamento que proporcionou

Quando me despedi,  o José disse-me que go.staria de ser contactado para poder estar presente no próximo Encontro da Tabanca Grande pois queria conhecer mais e melhor, os amigos do seu pai.

Disse-lhe que já não havia desde 2019 mas que seria provável que este ano voltasse a haver. Há "Encontros" parciais, é verdade, mas "não é a mesma coisa"...

Foi de facto uma perda para os familiares e também para todos nós, os que o estimavam e apreciavam.

Hélder Sousa  (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26565: In Memoriam (539): Valdemar Queiroz (1945-2025), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11 (1969/70): dezenas de camaradas quiseram despedir-se dele, no blogue e no facebook... O corpo é cremado amanhã de manhã, às 9h45, em Barcarena

sábado, 1 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26448: Fotos à procura de...uma legenda (194): Pastelaria e Café Império, diz o Cherno Baldé, "comi lá em 1979 o primeiro bolinho de arroz"... E o Patrício Ribeiro confirma: "É o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, ainda hoje tomei lá o pequeno almoço"...




Guiné-Bissau > Bissau > Vista aérea > S/d > Assinalado a amarelo o café e pastelaria Império, na antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independència) (ao lado, o Hotel Império, e atrás, com maior volumetria, o Hotel Royal)

Foto: cortesia da página do Facebook da Society for The Promotion of Guinea-Bissau, una ONG,com sede em Bissau. Disponibiliza centenas de fotos da Guiné-Bissau de hoje. Merece uma visita. As fotos, em princípio, são do domínio público, não é indicada a sua autoria.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


Guiné-Bissau > Bissau >  Antiga Praça do Império (hoje, dos Heróis da Independência) > s/d > "Café Império, que hoje já não deve existir (ou transformou-se numa padaria e pastelaria, segundo lemos algues). Era local de encontro de muitos militares, durante a guerra colonial". Foto do álbum do Albano Costa, ex-1.º cabo at inf da CCAÇ 4150 (Bigene e Guidaje, 1973/74), fotógrafo profissional reformado (Guifóes, Matosinhos).

Foto (e legenda): © Albano Costa (2000).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > O "misterioso" estabelecimento comercial com esplanada, fotografado pelo Jorge Pinto, na véspera de regressa a Portugal... Alguns confundiram-no com o Café Bento, outros com a Cervejaria Solmar...A memória já não é o que era... Pormenor que podia ser uma pista: no pendão, ao nível do 1º piso, pode ler-se "Confeitaria" (e não "Continental", como sugere o Valdemar Queiroz)... 


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]




1.  Alguns dirão que andamos aqui a discutir "o sexo dos anjos"...O mesmo é dizer, "conversa da treta" (*)...

A conversa quotidiana da generalidade dos seres humanos é sobre "coisas fúteis", do passado ou do presente.. Ninguém se interroga sobre o futuro... O passado e o presente conhecemo-los, mal ou bem... Temos uma narrativa "securizante", graças à nossa memória "seletiva"... O futuro, esse, não..., está carregado de incertezas. E a incerteza maior é a da hora e do lugar em que o "barqueiro de Caronte" nos vier buscar para a última viagem sem retorno...

Àparte esta reflexão melancólica (e meta...física!), lidamos mal com a incerteza... O futuro está fora da nossa zona de conforto...

Por isso, meus amigos, vamos lá continuar a decifrar o enigma (*): Café Bento ? Cervejaria Solmar ?... 

Nem uma coisa nem outra, dizem os mais "expertos" que calcorrearam a Bissau Velha do tempo colonial, à procura de uma bom vinho da "metrópole", de um bifinho com ovo a cavalo e batatas fritas, ou simplesmente de uma "bejeca" (como se diz hoje) para matar a malvada da sede (que na guerra e nos trópicos era a triplicar)...


2. O Cherno Baldé, que é hoje o "dono do chão", é perentório: 

"Ah!, tugas do caraças, o tempo não volta para trás...Mas se voltasse, vocês iriam parar de novo à Pastelaria Império, que ainda hoje existe com esse nome!... Ali na antuga Praça do Império onde se ergue o mamarracho de um monumento racista e colonista "Ao Esforço da Raça", inauguradio em 1945!... Escapou à fúria iconoclasta do Luís Cabral e dos seus rapazes paigecistas, todos filhos do colonislismo!...

Descolonizaram tudo, deitaram abaixo as estátuas dos vossos ilustres antepassadpos, mudaram a toponímia (rebatizada com os nomes dos grandes combatentes da liberdade da Pátria), arrumaram com os resquíscios todos dos velhos 'colóns0 (comoo diz o Rosinha),  decidiram por decreto que iriam construir um 'homem novo', segundo a Bíblia do Amílcar Cabral, mas continuaram a chamar 'Império' à pastelaria e ao hotel, junto à antiga Praça do Império, agora dos Heróis da Independència"...

De facto, a Pastelaria Império ainda hoje existe, com esse nome, e tem página no Facebook!...  Localização: Praça do  Império" (sic), Bissau, Guiné-Bissau, Telef +245 966 467 126...

E o Patrício Ribeiro acaba de o confirmar:

(...) Uma das fotos, mostra o antigo Café Império, na praça do Império, onde hoje é o Hotel Império, o café é diferente mas continua a manter o mesmo nome, onde hoje tomei o pequeno almoço, com vento e algum frio, 20º.

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 12:47:00 WET "(...)

Quanto à antiga Casa Esteves...,. " desde alguns anos é um banco. Perto do antigo Hotel Portugal, onde hoje funciona um Hotel, casino, bar e restaurante."


3.  Mais umas achegas da "malta-do-tempo-que-não-volta-p'ra-trás":

(i) Valdemar Queiroz :

Na última fotografia, aumentada, lê-se CONTINENTAL, no pendão na varanda da esplanada , pelo que os dois (militares) "já olham pro Continente” . 

sábado, 1 de fevereiro de 2025 às 13:43:00 WET 


(ii) Cherno Baldé:

Em 1979 aconteceu a minha primeira viagem a capital Bissau e, ainda lembro-me como se fosse hoje, o meu irmão trouxe-me a cidade que, já não era a mesma cidade do Gen. Spinola, mas ainda respirava-se um pouco do ambiente colonial, e na Pastelaria Império (na foto), deu-me a comer o meu primeiro bolinho de arroz e a seguir fomos assistir a um filme na então famosa UDIB, logo d'outro lado da Avenida da República/Amilcar Cabral. E, desde então nunca mais nos separamos salvo os anos de estudos no estrangeiro.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025 às 16:02:00 WET


(iii) Hélder Sousa:





(...) Tirei a minha carta de condução automóvel durante o ‘tempo da tropa’. Foi em Bissau, em Novembro de 1971.

Numa escola de condução ‘civil’, a “Escola de Condução Manuel Saad Herdeiros, Lda,” que se situava na Rua Tenente Marques Gualdes. À séria, com aulas de código e de condução pelas ruas de Bissau e também, já nas últimas lições, na estrada até ao aeroporto. O mais difícil era arranjar local para fazer “ponto de embraiagem”….

Quase tudo plano, havia três ou quatro sítios onde isso se fazia. Ensaiava-se em todos esses locais e um deles calhava de certeza no exame. A mim foi na pequena rampa de acesso à então “Praça do Império”, vindo do lado do aeroporto. Foi a última manobra e após isso, ficando aprovado, lá se foi comer uma ‘sanduiche’ de queijo da serra na “Pastelaria Império”. Com o examinador, claro! (...) (**)



(iv) Carlos Pinheiro:

(...) Nessa avenida estavam talvez as maiores casas comerciais. Por exemplo: a Casa Gouveia, da CUF, que vendia ali de tudo e que tudo comprava o que os naturais produziam, principalmente a mancarra; o Banco Nacional Ultramarino, o banco emissor da Província;o Cinema UDIB; e ao lado uma boa gelataria, mais acima, a Pastelaria, Padaria e Gelataria Império, assim baptizada por estar já na Praça do Império onde se situava o Palácio do Governo e a Associação Comercial. (...) (***)

Afinal, em que é que ficamos ? 

Café Bento, não, Cervejaria Solmar, não... Pastelaria ou Café Império. sim!!!





Excerto de mapa de Bissau > Posição relativa da Pastelaria (e Café) Império e o do Hotel Império, na antiga praça do Império, hoje dos Heróis da Independência. Uns chamam-lhe pastelaria, outros café... O Albano Costa tirou uma chapa em novembro de 2000 (****).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
_____________

Notas do editor:

(*)  1 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26446: Fotos à procura de... uma legenda (193): A foto de agosto de 1974, do Jorge Pinto, corresponderia a um dos três cafés-cervejarias existentes nas imediações da Praça Honório Barreto, o Internacional, o Portugal ou o Chave 
de Ouro ?

Vd. poste anterior:

31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(****) Vd. poste de 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16287: Memória dos lugares (340): Café Império, Praça dos Heróis Nacionais, Bissau, em novembro de 2000 (Albano Costa, ex-1.º cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74, o fotógrafo de Guifões, Matosinhos)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?





Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Uma das famosas esplanadas de Bissau, a um mês dos "tugas irem definitivamente para casa"... O fotógrafo nãpo identifica o local, diz apenas: "A foto foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!!"... O autor foi alf mil  art, 3ª C/BART 6520 / 72 (Fulacunda, 1972/74). Os dois militares que aparecem de costas, seriam do pelotáo do Jorge. (O Fernando Carolino tem uma foto igual, se calhar oferecida pelo Jorge; ele regressaria mais tarde à metrópole, já em setembro, por ser de rendição individual) (*)

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Qual a mais famosa esplanada de Bissau ?  O Café (e cervejaria) Bento, dirão muitos (tem 11 referências no nosso blogue) ... Também era conhecido com a 5ª Rep, o maior "mentidero" da cidade: era um dos nossos locais de convívio, dos gajos do mato, dos desenfiados e sobretudo dos heróis da guerra do ar condicionado; recorde-se que havia 4 grandes repartições militares em Bissau, no QG, na Amura,  mas a 5ª Rep,  o Café Bento, era a mais famosa, porque era lá que paravam todos os "tugas" que estavam em (ou iam a) Bissau, gozar as "delícias do sistema";  era lá que se fazia "contra-informação", de um lado e do outro; era lá que se contavam as bravatas, os boatos e as mentiras da guerra...

O Café Bento ficava na esquina da Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral) (do lado esquerdo, de quem descia), com a  Rua Tomás Ribeiro (hoje António Nbana) (nº 1 a vermelho no croquis a seguir), já perto do final da única avenida de Bissau, digna desse nome... 

Do outro lado dessa artéria, um pouco mais à frente, no sentido descendente, ficava a Casa Gouveia, a maior "superfície comercial da cidade"...

O edifício do Café Bento, ao   que parece, passou a ser, mais tarda, a sede da delegação da RTP África (hoje, com novas instalações, inauguradas em 2021, na Rua  Angola,  78, Chão de Papel, já fora portanto da "BissauVellha"; foi aqui que nasceu o saudoso António Estácio).

Em 1970, eu, o Humberto Reis e outros diriam que a melhor esplanada era o Pelicano (acabada de inaugurar,  ficava na Marginal, hoje Av 3 de Agosto). 

Mas o que importa agora á a foto que publicamos acima: Café Bento  ou Cervejaria Solmar (que infelizmente não vem no croqui do António Estácio). Vai uma aposta ?


  • O Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), que conheceu bem Bissau, antes e depois da independência, diz que a foto é o Café Bento, a famosa 5ª Rep,. do seu tempo (1967/69), do meu tempo (1969/71)... 


  • O Jorge Pinto (que tirou esta foto na véspera do regresso a casa, ams que conhecia mal Bissau, sempre enfiado em Fulacunda) diz também que não era o Café Bento, não se lembra bem do nome mas acha que podia ser a Solmar... Sabe que era perto da marginal do rio, da Casa Pintosinho...


Mas há mais camaradas nossos que conheceram bem (pou relativamente) Bissau, por lá terem estado colocados... e fazerem referências ao quer ao Café Bento / 5ª Rewp ou ao Café Restaurante Solmar... Por exemplo;

  • ou o nosso camarada da FAP, Mário Serra de Oliveira (que teve o  seu próprio restaurante em Bissau) [ex-1.º cabo escriturário, nº 262/66, BA 12, Bissalanca, 1967/68; esteve destacado na messe de oficiais em Bissau, entre maio de 1967 e dezembro de 1968; depois, já como civil, entre janeiro de 1968 e agosto de 1981, como empregado e como empresário passou por diversos estebelcimentos: Café Restaurante Solmar, Grande Hotel, Pelicano, Ninho de Santa Luzia (uma casa sua, que abriu em 14/11/1972), Tabanca, Casa Santos, Abel Moreira, José D’Amura e Oásis; trabalharia ainda na embaixada dos EUA; é autor, entre outros, do livro "Palavras de um Defunto... Antes de o Ser"(Lisboa: Chiado Editora, 2012, 542 pp, preço de capa 16€]
  • o Abílio Duarte, amigo e camarada do Valdemar Queiroz, ambos da CART (temos uma foto dele no café Bento);
  • sem esquecer o nosso também querido amigo guineense,  o Nelson Herbert...




Infografia: António Estácio (1947-2022)  / Blogue Luís Graça / Camaradas da Guiné (2025)


Infelizmente o croqui que encontrámos num livrinho do António Estácio (1947-2022) (nascido em "chão de Papel"...), só inclui a parte oriental da Bissau Velha, entre o lado esqerdo, de quem desce, da Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura (8) (antiga Rua Capitão Barata Feio, hoje Rua 24 de Setembro).

Aguardamos, por parte dos nossos leitores. uma ajudinha para legendar a bela foto do Jorge Pinto, que desdobrámos em quatro para uma leitura mais atenta e detalhada.




Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil)



Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Duas décadas depois da independência... Rua onde ficava a célebre cervejaria Solmar, aqui evocada pelo Hélder Sousa, acabado de chegar a Bissau, em 9 de novembro de 1970: "Após o jantar, uma voltinha para desmoer e reconhecer os vários locais de interesse, a Solmar, o Solar do 10, a Ronda, o inevitável Café do Bento (5ª Rep.), a casa das ostras na rua paralela à marginal, o Pelicano"...

Foto (e legenda) © Humberto Reis (2005). Todos os sireitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

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(***) Vd. 9 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18908: Estórias de Bissau (20): A cidade onde vivi 25 meses, em 1968/70: um roteiro (Carlos Pinheiro)... [Afinal o "Chez Toi" era a antiga casa de fados "Nazareno"...

(****) Último poste da série > 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26255: Fotos à procura de... uma legenda (191): a 4ª e última foto por identificar não pode ser o reordenamento e a pista da "minha" Gadamael, em finais de 1971 (Morais da Silva, cor art ref)

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25734: In Memoriam (506): Armando Carvalhêda (1950-2024), "um senhor da Rádio", que passou pelo Programa das Forças Armadas da Guiné, o "PIFAS", entre Abril de 1972 e Setembro de 1973, morre aos 73 anos (Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS - TSF)

IN MEMORIAM


ARMANDO CARVALHÊDA (1950-2024)


1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS, TSF  (Piche e Bissau, 1970/72), com data de 10 de Julho de 2024:

Caros amigos,

Fiquei surpreendido pela notícia do falecimento deste nosso "camarada da Guiné" que esteve em Gadamael e depois no PIFAS.

Como radialista foi um grande divulgador da música portuguesa.

Não pertenceu ao nosso Blogue por incompatibilidades com outra pessoa.
Se acharem que é pertinente, podem usar, no todo ou nas partes que melhor considerem.
Se acharem que não tem cabimento ou tem pouco, pois então arquivem...

Abraços
Héder Sousa



SOBRE O ARMANDO CARVALHÊDA

Como já se devem ter apercebido, faleceu o Armando Carvalhêda1, nosso camarada da Guiné, que teve alguma notoriedade no PIFAS.

Natural de Almada, passou a infância e juventude em Setúbal. Teve a sua primeira experiência radiofónica na primeira rádio-pirata nacional, o Rádio Clube de Alcácer do Sal, onde esteve em 1967.

Foi mobilizado para a Guiné, colocado em Gadamael mas depois foi cooptado para O PIFAS.
Quando voltou acabou por integrar a Emissora Nacional e já mais recentemente dava corpo a um notável programa de defesa e divulgação da música portuguesa, designado por “Vivá Música”.

Amigos comuns aqui de Setúbal, que com ele partilharam aulas no então Liceu de Setúbal, recordaram-me que, para além de excelente amigo era um brincalhão compulsivo.

Entre várias peripécias, mais ou menos divertidas, contaram-me uma que se passou na época de Carnaval, em que o bom do Armando resolveu colocar várias “bombinhas de carnaval” numa sanita da Escola e, claro está, o excesso fez rebentar aquilo. Contactado o pai (naqueles tempos havia essa noção de responsabilidade…) para que a situação fosse reposta, o Armando foi “aconselhado” pelo pai a transportar a nova sanita às costas desde o local da compra até ao Liceu (cerca de 400 metros), o que ele fez perante o divertimento do pessoal discente, principalmente o feminino.

O Armando era também conhecido do “nosso outro Armando”, o Pires.

Tentei que entrasse ou colaborasse com o nosso Blogue, conforme podem apreciar na troca de mails que tivemos, mas o seu (dele) desentendimento com um outro elemento do PIFAS não lhe permitiu.


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2. Mail que enviei a 06/03/2012

Boa noite!

Peço desculpa duma intromissão deste tipo mas estou como uma curiosidade que não consegui conter.

E curiosidade sobre quê? Bem, sempre que me desloco de carro e como tenho quase sempre sintonizada a "Antena 1", ouço muitas vezes programas do "Armando Carvalhêda" e dou por mim a pensar: "será que eu o conheço?"...

É que tenho ideia de haver um "Armando Carvalhêda" que trabalhou na "Rádio Azul", em Setúbal e também em outros locais aqui à volta de Setúbal, onde vivo, e com o qual já tive contactos. E acresce ainda que esse mesmo "Armando" foi meu contemporâneo na Guiné, em Bissau, e era conhecido dum camarada meu aqui de Setúbal, chamado Nelson Batalha.

Acontece ainda que estou 'associado' a um blogue de pessoas que estiveram na Guiné, a que chamamos "Tabanca Grande", promovido por um tal Luís Graça, professor na Escola Nacional de Saúde Pública, podendo também ser encontrado por "Luís Graça e Camaradas da Guiné" e acontece ainda também que, por estes dias, nesse blogue têm passado muitas recordações sobre um programa que por lá havia, o PFA (programa das Forças Armadas), mais conhecido na gíria por PIFAS.

Recordação atrás de recordação, veio inevitavelmente à baila o nome do João Paulo Diniz e também apareceu citado o "Armando".

Acresce que o JPDiniz, alertado pelo Joaquim Furtado sobre a existência do Blogue, foi lá espreitar e já entrou em contacto connosco propondo-se até para participar no nosso Encontro, o VII, que terá lugar em Monte Real em 21 de Abril.

Por isso, meu amigo, se for o "Armando " errado, peço desculpa pela intromissão e pelo atrevimento.

Se for o "Armando" certo, fico muito satisfeito e mais ficarei se houver 'volta do correio'.

Com consideração
Hélder Sousa


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3.
Mail recebido a 07/03/2012

Olá Hélder,
De facto sou eu mesmo esse tal Armando Carvalhêda. O que esteve no PFA na Guiné; o que passou em dois momentos diferentes pela Rádio Azul; e, ainda antes de tudo isto, o que estudou no Liceu de Setúbal e no Externato Frei Agostinho da Cruz; o que, enquanto estudante, ajudou a fazer (e a desfazer…) em 66/67, o Rádio Clube de Alcácer do Sal – RCAS.Emissor 225.

É assim: acabamos sempre “descobertos” e chamados a “prestar contas”…

Um abraço do
Armando Carvalhêda
Direção de Programas Rádio
armando.carvalheda@rtp.pt


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4. Mail enviado a 12/03/2012

Ora então, muito boa tarde, ou melhor, boa noite! e... "VIVÁ MÚSICA!"
Armando, foi com bastante emoção que vi e li a tua resposta ao meu mail 'exploratório'.
E antes de continuar quero-te pedir desculpa por não ter reagido logo de imediato, mas tive um problema com o carro e outras coisas e só agora estou então a dar seguimento.

Pronto, 'foste descoberto', como dizes. Bem que tinha 'quase' a certeza que eras tu mas como já passou tanto tempo podia ser mais a vontade que fosses e não estava a querer 'dar barraca'.
De facto essa tua frequência do Liceu de Setúbal é que te deve ter dado o conhecimento do Nelson Batalha ("o Nelsinho de olho azul, o menino-bonito do Bairro da Conceição", como ele costumava dizer, e que casou com a namorada de sempre, a Zezinha, filha do Chico Primo, grande jogador do Vitória).

Na época eu não tinha relação com Setúbal, vivia em Vila Franca de Xira, só vim para cá 2 meses antes de 25 de Abril de 74 e foi portanto com o Nelson e através dele que eu estive contigo em Bissau algumas vezes. Nós pertencíamos às Transmissões, fizemos o curso do STM juntos, ele foi para Catió onde foi ferido e eu fui para Piche. Depois regressámos a Bissau e fomos integrar e desenvolver a "Escuta" donde enviávamos trabalhos para a ACAP, entre outras coisas.
Entretanto tenho também a ideia, como já disse, de ter estado posteriormente contigo na "Rádio Azul" e não sei ao certo mas talvez também na "Rádio Pal" ou qualquer coisa assim, nuns programas de divulgação de empresas de região, mas posso estar a fazer confusão.

Como te disse antes, o João Paulo Diniz, informado pelo Joaquim Furtado, consultou o tal Blogue de que te falei, quando na semana passada se fizeram vários 'post' e comentários sobre o PFA ou "PIFAS" como a malta mais genericamente se referia ao programa, e entrou em contacto através dos endereços que lá estão sendo que já se inscreveu para participar no nosso VII Encontro a ocorrer em Monte Real no sábado 21 do próximo mês de Abril. Muito sinceramente gostava de te ver por lá e acho até que seria muito engraçado e curioso essa 'reedição' do JP Diniz e Armando Carvalhêda. Tenho a certeza que muitas lágrimas furtivas haveriam de afluir a muitos olhos...
Entretanto, para não te maçar com estes revivalismos, fico por aqui.
Quando quiseres e tiveres paciência responde e diz qualquer coisa.

Um forte abraço
Hélder Sousa


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5. Mail recebido a 13/03/2012

Olá Hélder,

Pois é… como se vê, cada vez menos, é impossível viver isolado e passar despercebido. Neste caso, é saudável e permite retomar memórias que habitam as zonas mais “adormecidas” do nosso cérebro.
Não sei o que é feito do Nelson, meu companheiro do Liceu e do Colégio, mas também meu vizinho – visto eu ter morado perto de sua casa no Bairro da Conceição – e ainda companheiro de músicas. Ele tocava teclados e eu tinha a mania, entre outras, que tocava bateria. Depois dessa vivência conjunta em Setúbal, reencontrámo-nos em Bissau.

Andava eu a dizer mal da minha vida, após ter desembarcado e sido “abandonado”, aguardando colocação – viria a sair-me em sorte a “bela estância turística” de Gadamael –, encontrei o Nelson que me proporcionou um luxo verdadeiramente principesco: um duche numa vivenda que ele tinha alugado com outros companheiros de Transmissões, ali para os lados do QG.

O que um e-mail pode espoletar…

Já agora, fui de facto contemporâneo do J. Paulo Diniz no PFA mas, ao contrário das boas recordações que o Nelson me suscita, em relação a ele nada de bom retenho. São, enfim, histórias antigas, e algumas até dolorosas, já com quatro décadas de “pó” acumulado nas prateleiras da memória.

Um abraço grande do
Armando Carvalhêda


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6. Mail enviado a 26/03/2012

Olá, Armando!

Retomemos então as nossas informações e memórias.

Começo por te agradecer o que escreveste, que me avivou ainda mais a memória e, sem nostalgias, ajuda a recarregar baterias.

Falo agora do Nelson.Pois o nosso amigo Nelson, mercê da nossa vivência, amizade e companheirismo, acabou por ter bastante influência no facto de eu ter vindo trabalhar para a Sapec e viver em Setúbal. Eu sou 'produto' da margem norte do Tejo. Nascido numa aldeia perto do Cartaxo, Vale da Pinta mais exatamente, mas logo com 3 meses a seguir para Vila Franca de Xira onde bebi toda a formação que aquela boa terra me foi capaz de possibilitar e eu de absorver.
O Nelson e a mulher, a namorada de sempre, a 'Zezinha' filha do Xico Primo, acabaram por ser os meus padrinhos de casamento, melhor dizendo, da cerimónia religiosa ocorrida em 1998, já que o casamento civil ocorreu em 1972 quando ainda estava na Guiné.~

Referiste o 'banhinho' que te proporcionaram lá numa vivenda.... tudo certo, apenas que não era uma vivenda alugada pelo Nelson e amigos mas sim alojamentos proporcionados pelo Agrupamento de Transmissões a sargentos e furriéis. Se te conseguires lembrar e visionar era um conjunto de três edifícios separados, cada qual com três fogos. O fogo do meio, do edifício do meio, era onde funcionava a "Escuta", onde na ocasião o Nelson, eu e mais uns quantos desempenhávamos funções. Olhando da estrada de acesso ao conjunto para a frente desses edifícios, o fogo à direita da "Escuta" era onde, num dos três quartos que cada fogo possuía, eu e o Nelson tínhamos o nosso poiso. Portanto, na época, o quarto tinha dois ocupantes, eu e ele (e umas osgas, e baratas e mosquitos, e...).

Dos conhecidos do Nelson, aqui de Setúbal, para além é claro, também estive lá com um tal João, sobrinho do 'Isidro dos frangos' mas lembro-me de pouco. Ele também me falou de um tal Pedro 'qualquer coisa', também morador no Bairro da Conceição, salvo erro na Av. Jaime Cortesão, que vai dar lá abaixo ao Quebedo e que o pai dele era (ou foi depois) diretor da Alfândega. Para não falar do Vítor Raposeiro, que ele chamava de Vítor 'Caniços' e que era guitarrista num dos conjuntos que havia na época e que foram aos 'concursos yé-yé'. Sei que também foste colega do António Justo Tomaz, que também esteve na Guiné e que foi requisitado para a Câmara de Bissau e mais tarde Presidente do Vitória.

Do Nelson posso falar-te de mais coisas com amizade, respeito, consideração, pois tenho muitas histórias dele e/ou passadas com ele.

O problema é o Nelson atual e foi por isso que demorei mais tempo a responder. Vacilei em dar-te as notícias mas agora acho que as coisas são como são e há que falar francamente. O nosso amigo Nelson está com um problema de 'alzeimer', que se tem vindo a agravar progressivamente e agora está muito complicado. Quando falamos com ele, às vezes lembra-se, outras não, e o tipo de linguagem é quase só 'pois, pois, pois', 'o dinheiro, pois, pois, o dinheiro' (está a chamar dinheiro a tudo por lhe faltar o vocabulário).

 Isto custa-me muito, a impotência de fazer qualquer coisa, está a rebentar com os nervos dos familiares, como calculas. Já não estou com ele há mais de um mês, embora telefone com regularidade a saber dele.

Enfim, amigo, uma nota triste, mas achei preferível dar-te conhecimento.

Agora, um outro assunto. Com que então Gadamael... não podias ter tido melhor sorte... local arborizado, perto dum rio, com muito fogo de artifício, nada de monotonias.... quando hoje se conta um bocadinho dessas autênticas epopeias a malta nova não acredita e pensa que se está a exagerar. Enfim, espero que não tenham que passar por nada semelhante.

Relativamente ao resto.... pois, sendo uma coisa que não te é agradável, não falo disso. Apenas gostava que desses então uma olhadela no tal Blogue "Luís Graça e Camaradas da Guiné" (ou então procura por "Tabanca Grande") e diz-me qualquer coisa. O meu interesse é que gostava de ter alguma intervenção tua em termos de recordação da tua participação na Guiné (em geral, ou no PIFAS em particular, se possível). Isso pode ser entrando diretamente em comunicação para o Editor de acordo com os endereços lá disponibilizados ou então para mim que posso veicular, já que sou um "colaborador permanente".

Já agora, que estou numa de escrever... talvez pudesse ser para ti uma proposta de trabalho ires repescar o que fazem (individualmente ou ainda como grupo) as várias 'bandas' ou conjuntos desses tempos dos concursos no Monumental...

Um forte abraço.
Hélder Sousa


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7. Mail enviado mais tarde, a 07/12/2015

Meu amigo Armando
Aqui te envio um texto (um 'post') saído na passado sábado no Blogue de que te já falei, "Luís Graça e Camaradas da Guiné". (trata-se do “post” 15449).

É a propósito da tua intervenção no programa das músicas do tempo da guerra, do Marinho.
Vê se gostas.

Acho que está bem...

Abraço
Hélder Sousa


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8. Mail recebido a 09/12/2015

Olá Hélder,

É sempre bom recordar momentos marcantes da nossa vida. E como a Guiné nos marcou a todos…
Obrigado pelo que escreveste sobre o que tem sido o meu percurso profissional.

Um abraço forte do
Armando Carvalhêda
Antena 1


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Depois disto não houve mais troca de mails.

Cheguei a tentar combinar com o Armando Pires aparecer num dos programas ao vivo do “Vivá Música” mas por diversas razões nunca aconteceu.

Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF

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Notas do editor:

[1] - Vd. post de 5 DE DEZEMBRO DE 2015 > Guiné 63/74 - P15449: O PIFAS de saudosa memória (19): O Armando Carvalhêda no programa "Canções da Guerra", do Luís Marinho, na Antena Um: "O PIFAS, o Programa das Forças Armadas, era mais liberal do que a Emissora Nacional"...:

1. O Armando Carvalhêda é outro dos grandes senhores da rádio (*) que passou pelo Programa das Forças Armadas, o popular PIFAS, entre abril de 1972 e setembro de 1973, conforme ele recorda em conversa com o Luís Marinho, no programa da Antena Um, Canções da Guerra. O seu depoimento pode ser aqui ouvido, em ficheiro áudio de 4' 55''.

Segundo o Armando Carvalhêda, o PIFAS, transmitido pela Emissora Oficial da Guiné, era "mais liberal" do que a estação oficial, transmitindo canções de "autores malditos", como José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Zeca Afonso, que não faziam parte da "playlist" (como se diz agora) da Emissora Nacional, em Lisboa.

Eram os próprios radialistas, os locutores de serviço, jovens a cumprir o serviço militar e coaptados para a Rep Apsico, para o Serviço de Radiodifusão e Imprensa, que faziam "a pior das censuras", que era a autocensura...

O Armando dá um exemplo, com o LP do José Mário Branco, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" (que tinha sido editado em Paris, em 1971)... Havia um consenso tácito sobre algumas músicas que não deviam passar no PIFAS. Neste LP, era, por exemplo, o "Casa comigo, Marta!"...


Último post da série de 5 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25718: In Memoriam (505): A. Marques Lopes, cor inf ref, DFA (1944-2024), um histórico do nosso blogue: despedida amanhã, às 11h45, no Tanatório de Matosinhos; e Elisabete Vicente Silva (1945 - 2024), viúva do nosso camarada, dr. Francisco Silva (1948 - 2023): o funeral é hoje, na igreja de Porto Salvo, Oeiras, às 16h00